terça-feira, 6 de agosto de 2013

CINEBIOGRAFIAS DE ROQUEIROS FAMOSOS


Filmes biográficos formam um subgênero dos mais atrativos para a indústria cinematográfica. Mas, no que se refere a projetos de ficção em tributo a ídolos da música, sobretudo os ainda vivos e donos de um legado muito precioso, o caminho para se chegar às telas pode ser acidentado. Se no Brasil existe a barreira legal imposta por biografados e herdeiros, que exigem autorização para os realizadores tocarem projetos com seus nomes, nos EUA essa dificuldade costuma se dar na esfera musical. Pode-se fazer lá um filme sobre os Beatles, por exemplo, mas tocar num patrimônio sonoro de alto valor que envolve direitos autorais costuma ser complicado. Por isso, é comum chegarem aos cinemas filmes como All Is by My Side, no qual Jimi Hendrix vai aparecer sem tocar nenhum de seus clássicos. Esta produção, realizada à revelia da família do guitarrista, que não liberou o uso de suas músicas, é uma das tantas cinebiografias que estão em diferentes etapas de realização – algumas podem nem sair do papel. Preservando uma unidade temática, aqui, alguns filmes que contemplam gigantes da história do rock. Vale lembrar que também estão em produção longas sobre artistas dos mais diferentes gêneros: dos brasileiros Tim Maia, Erasmo Carlos e Mamonas Assassinas a ícones da soul music como James Brown, Aretha Franklin, Marvin Gaye e Sam Cooke, dos artistas folk Tim e Jeff Buckley, pai e filho, a Michael Hutchence, que foi vocalista do INXS.

Com o título All Is by My Side, o filme apresenta o músico André Benjamin (do Outkast) encarnando o lendário guitarrista americano Jimi Hendrix. A estreia mundial está marcada para setembro, no Festival de Toronto, no Canadá. A trama é ambientada entre 1966 e 1967, quando Hendrix foi descoberto em Nova York pela modelo Linda Keith, então namorada do rolling stone Keith Richards, que fez os contatos que levaram o virtuoso guitarrista para a Inglaterra. O filme destaca ainda a importância de Chas Chandler, baixista do grupo britânico The Animals, que viu Hendrix em ação nos EUA e o ajudou, em Londres, a montar o célebre trio The Jimi Hendrix Experience (com o baixista Noel Redding e o baterista Mitch Mitchell). Nos clubes londrinos, Hendrix começou sua incendiária trajetória como um dos mais importantes criadores da história do rock, ganhando como admiradores artistas como Eric Clapton e os Rolling Stones. A família Hendrix não autorizou o uso de suas composições mais conhecidas, como Foxy Lady, Hey Joe, Are You Experienced? e Little Wing. A alternativa do diretor John Ridley foi usar clássicos do blues que o guitarrista tocava em suas primeiras apresentações.

O fulgurante universo dos Fab Four já foi retratado ficcionalmente em Backbeat – Os Cinco Rapazes de Liverpool (1994), que mostra a temporada dos Beatles na Alemanha antes do sucesso mundial, e O Garoto de Liverpool (2009), sobre a juventude de Jonh Lennon até seu encontro com Paul McCartney e George Harrison. Tem ainda um telefilme Tudo Entre Nós (2000), com o encontro entre John e Paul em Nova York, em 1976. Duas cinebiografias anunciadas terão como personagem Brian Epstein, mítico empresário dos Beatles que morreu ao 32 anos, em 1967, em meio a conflitos íntimos decorrentes do vício em drogas, da homossexualidade enrustida, da administração do patrimônio musical e cultural que ergueu e dos egos de seus pupilos. Uma é a adaptação da graphic novel The Fifth Beatle, do produtor teatral Vivek Tiwary – e seria o primeiro filme com direito de usar canções originais da banda. O outro projeto, ainda sem título, tem o nome do ator Benedict Cumberbatch como intérprete de Epstein e Paul McGuigan na direção. E é grande as expectativa em torno da adaptação para o cinema de The Longest Cocktail Party, livro homônimo de Richard DiLello que descreve os anos de crise na corporação beatle com foco na ascensão e derrocada da Apple, a gravadora do grupo – com bastidores das célebres festas lá realizadas e do antológico concerto no telhado. Quem está à frente do projeto, como produtor, é o músico marrento Liam Gallagher. O diretor convidado é bom: Michael Winterbottom, do cult a A Festa Nunca Termina, que retratou a cena musical de Manchester nos anos 1980.

Lançado em 2005, Stoned: A História Secreta dos Rolling Stones destacou a ascensão da banda com foco na figura problemática do guitarrista Brian Jones e sua nebulosa morte – o filme reforça a tese de que seu afogamento na piscina de casa não foi acidental, mas sim um crime cometido por um empregado. Por não ser um projeto autorizado, teve na trilha canções covers que os Stones tocavam no começo da carreira. A chancela de Mick Jagger, Keith Richards e companhia foi dada a Exile on Main Street: A Season in Hell with the Rolling Stones, adaptação do livro de Robert Greenfield sobre os bastidores da gravação, na França, do clássico disco Exile on Main Street, em 1971.

Íntimo do universo musical pop – já dirigiu videoclipes e documentários para artistas como David Bowie e Sex Pistols –, Julien Temple toca o projeto sobre a banda britânica The Kinks, contemporânea de Beatles e Rolling Stones e que imortalizou hinos roqueiros como You Really Got Me. Este, aliás, é o nome do filme que vai destacar a relação de amor e ódio entre os irmãos Ray e Dave Davies – em seu tempo, a rivalidade deles pelo controle criativo da banda antecedeu a folclórica disputa dos manos do Oasis Noel e Liam Gallagher. O atraso no filme dos Kinks fez Temple adiantar outra cinebiografia, Sexual Healing, sobre o astro da soul music Marvin Gaye, com estreia prevista para 2014.

Brian Wilson, a genial e perturbada mente criativa de uma das grades bandas dos anos 1960 é o personagem central de Love & Mercy, previsto para estrear em 2014. O músico é vivido por Paul Dano na juventude e John Cusack, na maturidade. Revelados na crista da onda da surf music da Califórnia, os Beach Boys lançaram em 1966 Pet Sounds, obra-prima cuja arrojada experimentação sonora perece ter consumido a sanidade de Wilson. O filme destaca a relação do músico viajandão com o terapeuta Eugene Landy (vivido por Paul Giamatti), acusado por amigos e familiares de Wilson de ser um picareta que aproveitou a fragilidade emocional dele para aparecer e enriquecer.

Em 1979, Bete Middler fez a protagonista do drama musical A Rosa decalcada em Janis Joplin, um recurso para evitar problemas legais – a própria atriz interpreta clássicos do blues. Agora, o diretor Lee Daniels (de Preciosa) está ligado à cinebiografia Janis Joplin: Get It While You Can. O diretor brasileiro Fernando Meirelles chegou a se envolver nesse projeto, que teve uma das versões do roteiro escrita pelo também brasileiro José Eduardo Belmonte. E depois de ter Renée Zellweger na largada, o papel, tudo indica, acabou ficando com Amy Adams. O projeto ainda está em pré-produção, assim como Janis, cinebiografia que tem Nina Arianda escalada para viver a cantora – na vaga que chegou a ter como candidata Zooey Deschanel.

O próprio Elton John anunciou Rocket Man – nome de um de seus incontáveis hits – como a sua cinebiografia. Lee Hall, roteirista de Billy Elliot, já escreveu a história, que contempla da juventude do artista ao início de sua parceira musical com o letrista Bernie Taupin, uma das mais inspiradas dobradinhas da música pop. Elton sugeriu James McAvoy para interpretá-lo, mas as especulações passaram por nomes como Justin Timberlake, Ewan McGregor e, a mais recente, Tom Hardy. Certo, por enquanto, só o diretor, o novato Michael Gracey.

O filme sobre a banda britânica parecia ter achado o caminho das telas, mas o ator Sacha Baron Cohen desistiu do viver o icônico vocalista Freddie Mercury. Cohen alegou "diferenças criativas" com o guitarrista Brian May e o baterista Roger Taylor. A discordância seria pelos músicos terem em mente um filme "família", enquanto Cohen queria destacar a faceta sexo, drogas e rock ‘n’ roll de Mercury, que morreu vitimado pela Aids em 1991. Os produtores da cinebiografia buscam agora um novo ator para o papel.

De forma bastante livre, o diretor Gus Van Sant evocou a figura angustiada de Kurt Cobain no filme Últimos Dias (2005). Já várias vezes anunciada, a cinebiografia oficial do líder do Nirvana, que se matou em 1994, parece que sairá do papel pela mão de Brett Morgen (do documentário Crossfire Hurricane, sobre os Rolling Stones). Inspirado no livro Mais Pesado que o Céu, de Charles R. Cross, Morgen anuncia que seu filme irá combinar ficção e documentário usando imagens de arquivo, animação e cenas dramatizadas. E é exatamente o trailer desse filme que a gente confere agora:

4 comentários:

Valdir Junior disse...

Fico com um pé atrás com essas cinebiografias , pois tem umas que funcionam muito bem e outras que são verdadeiros "Barcos-Furados" ou "Show de Horrores" !!!
Mas o filme BackBeat é um dos meus favoritos de todos !!!!!

Júlio disse...

Excelente post. Muitas dicas de filmes. Concordo com o Valdir Jr.: nem todas cinebiografias são boas, mas é sempre bom saber quais estão disponíveis para a gente dar uma conferida.

Unknown disse...

Eu tambem concordo com meus amigos nos comentários, nem sempre ás biografias sao corretas no seu caminhar,por isso temos mesmo que ter um olho crítico á todas elas.

João Carlos disse...

Back Beat e Stoned eu vi e são ótimos.'Ceramente,Kurt Cobain não me interessa.Os demais,vocês falaram o suficiente.Não tem meio termo.Ou é luxo ou lixo!