sexta-feira, 5 de julho de 2013

PAUL McCARTNEY - PRESS TO PLAY


Fonte do texto: "Paul McCartney - Todos os segredos da carreira solo" - Claudio D. Dirani
“Pressione para reproduzir”. Press To Play – um álbum de "Pop experimental". Uma produção complexa à espera de finalmente ser redescoberta pelo público, gravada no estúdio particular recém inaugurado num velho moinho em East Sussex.

Em meados dos anos 80, o mundo já não mais aguardava ansioso por mudanças drásticas no cenário da música pop. Recém-saído do punk e curtindo os frutos do new wave, nada parecia impressionar o comprador de discos e, claro, os críticos musicais que bocejavam quando o assunto fugia muito do trivial. Apesar de o sinal estar amarelo para as "aventuras" no estúdio de qualquer artista, Paul McCartney permaneceu durante quase um ano trabalhando em um álbum que em breve iria se tornar um dos mais "complexos" de sua carreira pelos mais diversos motivos.
Ainda assim, a escolha de Hugh Padgham como produtor de Press To Play sugeriria justamente o contrário. Padgham despontava na época como a bola da vez na indústria fonográfica britânica, tendo produzido em 1983 o aclamado Synchronicity, do The Police, que trazia o mega-sucesso, Every Breath You Take, cantado por Sting. No estúdio, a propósito, recém-inaugurado na bucólica região de East Sussex, próxima ao English Channel (Canal da Mancha, para os franceses), a participação do produtor acabou sendo um pouco tumultuada. Por ter assinado contrato com o Genesis para trabalhar em seu próximo LP, Invisible Touch (86), a finalização de Press To Play seria sensivelmente prejudicada, tendo que abandonar o projeto em vista também de seus diversos adiamentos (em princípio, o disco seria lançado em julho de 1985).
De qualquer modo, poucas faixas incluídas no álbum aparentavam ser comercialmente fortes para a época. Pelo contrário. Canções como Pretty Little Head e Talk More Talk soaram modernas demais para os anos 80, o que exigiu até do fã mais radical de Paul certo tempo para assimilar todo o seu conteúdo. Outras músicas trariam à tona a seguinte questão: isso é mesmo um disco de Paul McCartney? Quem andava acostumado com as baladas No More Lonely Nights e Pipes of Peace, e tinha acabado de assistir Macca cantar Let It Be no mega-show beneficente Live Aid, estranharia muito as guitarras pesadas em Angry (cortesia de Pete Townshend) e os versos surreais, mais típicos de John Lennon em However Absurd. Definitivamente, McCartney aprenderia a lição: para qualquer músico, ousar é um ato difícil. Para a carreira solo de um ex-beatle, então, ousar é quase um sacrilégio! O preço da ousadia, ainda que benéfica, levaria o LP a um magro 30° lugar nas paradas norte-americanas e um intervalo de três anos na produção de seu próximo trabalho original, Flowers In The Dirt. Sob o ponto de vista de McCartney, Press To Play "não deu muito certo do jeito que desejava, embora tivéssemos feito algumas coisas legais nele. Ficou um pouco difícil, porque ele (Eric Stewart) pensou que eu quisesse sua ajuda na co-produção. Então, os problemas aconteceram por causa desse mal entendido".
A diversidade de estilos e sons criados em Press To Play tomaria aproximadamente um ano de trabalho de McCartney, que compusera a maior parte das canções do álbum em parceria com Eric Stewart após o bom entrosamento entre os músicos em Give My Regards To Broad Street, Pipes of Peace e Tug Of War. A sessão inicial de trabalhos começaria em abril de 1985, em seu estúdio particular recentemente construído, com a presença de Carlos Alomar (guitarra) e Jerry Marotta (bateria) na gravação das bases rítmicas para Move Over Busker, Good Times Coming/FeelThe Sun, Press, However Absurd, Stranglehold, Footprints, Pretty Little Head, Write Away, Tough on A Tightrope e It's Not True, sendo que estas três últimas acabariam como lado B dos inúmeros compactos lançados posteriormente. Yvonne's The One, também registrada neste período, permaneceria medita até sua regravação para o disco Mirror Mirror, do 1Occ, em 1995. Fator crucial: a decisão de construir um estúdio particular — projetado pelo arquiteto londrino, Andy Munro — em Sussex, não havia sido tomada por McCartney apenas por uma questão de conforto. A economia pesou também, já que o valor da conta paga por ele pela produção de Tug Of War, Pipes of Peace e Give My Regards To Broad Street nos estúdios A.I.R daria para ter construído, já naquela época, um estúdio superequipado!
Originalmente, Press To Play contaria apenas com as faixas trabalhadas durante dois meses pelo quarteto. Porém, devido ao adiamento de seu lançamento pela negociação de um novo contrato com a Capitol (Paul retornou à gravadora após cinco anos na Columbia), novas canções foram compostas e produzidas para uma possível inclusão no disco: Talk More Talk, Hanglide, Angry (com a participação de Phil Collins e Pete Townshend) e Only Love Remains — todas elas comercializadas em pelo menos duas versões com a adição de instrumentos e mixagens diferentes. Após a saída de Hugh Padgham, por motivos profissionais, o engenheiro Tony Clark (Wild Life) entraria em cena para cuidar da mixagem e gravação de algumas faixas de Press To Play. Duas músicas compostas nesta época seriam lançadas ainda em fins completamente distintos. O reggae Simple As That integraria o álbum beneficente "The Anti-Heroin Project" (86), e o rocker Spies Like Us foi vendido como compacto para divulgação do filme homônimo, em setembro de 1985.
A fotografia da capa do álbum foi feita por George Hurrell, usando a mesma câmera de caixa que ele usava em Hollywood nos anos 1930 e 1940. Não há como não perceber uma referência clara à capa do álbum Double Fantasy, de John Lennon e Yoko Ono.

4 comentários:

Valdir Junior disse...

Post pra lá de completo !!
Puxa eu não tinha parado e pensado na semelhança da capa com o Double Fantasy !!! Valeu Edu !!!

João Carlos disse...

É um bom disco. Mas tem coisas ali (alguns arranjos e canções) mal-acabadas. Tinha o LP americano (normal). O CD trouxe Write Away (que é ótima) de bônus. E consegui a 2ª e melhor versçao de Only Love Remains.
O texto foi bem preciso!

Unknown disse...

Edu,admito que eu nao conheço bem Press to play,lembro quando foi lançado, mais talvez como foi dito,Paul arriscou e fugiu bastante de se padrao,mais tudo que ele faz é sempre bom,como sempre perfecsionista.


depaula disse...

Paul é um Beatle. Os Beatles nunca tiveram medo de arriscar. Eles sempre foram ousados. Pensar num Beatle com receio de inovar não entra na minha cabeça. Que ousadia foi Rubber Soul. Sgt Pepper! Inovando e influenciando. E Revolver com aquela música cheia de loops? Era o que o mercado queria? Não. Nem sabiam que aquilo era possível. Eles inventavam, jogavam no mercado...e sempre deu certo. Outra grande ousadia: Strawberry Fiels Forever...Tudo bem que não foi para o primeiro lugar na Inglaterra. Mas apenas porque Please Releame me vendeu mais. Não porque o disco deles tenha fracassado. Muito pelo contrário, tornou-se um clássico. O problema é que os Beatles separados nunca tiveram a mesma força que tinham juntos. Eu confesso não conhecer Press to Paul a não ser Long ago ...puxa me esqueci o nome. Once Upon a long ago? Que é belissima, por sinal. Vi um comentário aqui que estava mal acabado. Isso é diferente de ser ousado. Infelizmente muitos dos discos de Paul, principalmente com Wings, estavam mal acabados. Onde estava o Paul perfeccionista? Enfim, agora eu quero ouvir o disco inteiro. Seria por ser avançado demais ou por ter sido feito com pouco cuidado? Quanto a capa...eu fui olhando e pensando em Double Fantasy, que não gostei. Pode ter sido inconscientemente. Mas...para mim pegou mal. Como uma competição com John sem a menor sentido. As vezes sinto que Linda na banda foi respondendo a Yoko com John. Fãs pagando o papo por um problema pessoal deles, visto que ambas as esposas não tinham nem sombra de talento. Estou louca pora ouvir o rock pesado. Eu adoro o Paul roqueiro.