domingo, 15 de janeiro de 2012

ARQUIVOS SECRETOS - O SONHO NÃO ACABOU. NEM O MITO

Essa matéria que a gente confere agora – com absoluta exclusividade do nosso blog preferido, foi publicada na revista “VISÃO” e data de 18 de junho de 1984. Há 28 anos. O texto não é assinado e mostra certa parcialidade ao enaltecer tanto os (merecidos) méritos da carreira de Paul McCartney àquela altura e ser tão duro com os outros. Bom, cada um tire suas conclusões. Abração a todos!
Dia 5 de junho de 1964. A multidão que se comprime diante do London Pavilion explode em aplausos, gritos, empurrões, movimentos frenéticos: chegam os irreverentes, ousados e magnéticos Beatles para a estreia mundial de seu primeiro filme, A hard day's night — no Brasil, um nada imaginoso Os reis do iê-iê-iê. Era um trepidante filme em preto e branco, dirigido por Richard Lester, o mesmo que dois anos depois assinaria Help!, que, com Yellow submarine e Let it be, consagraria os "jovens de Liverpool" também nas telas. Sempre sucesso certo — afinal, tudo que os Beatles tocavam virava dinheiro e... mais fama, num círculo que parecia indestrutível.
Vinte anos depois, o que resta? Os Beatles se transformaram em lembrança — deles ficaram apenas a voz registrada em discos, que ocupam um lugar especial na memória musical do mundo, e uma geração profundamente marcada por sua influência. John, Paul, Ringo e George se separaram depois de violentos atritos e cada um tomou seu caminho.
Mas todos muito ricos e sempre fazendo mais dinheiro, pois afinal "o erro das pessoas é considerar os Beatles jovens estrelas de doce memória. Ao contrário, são homens de negócios de meia-idade que tiveram muito dinheiro e aprenderam a administrá-lo de forma sábia e prudente", desmistifica Larry Shames num artigo que escreveu há poucos anos sobre os investimentos de John Lennon, para a revista Esquire.
Música todos continuaram fazendo. Mas a fama, se continuou "madrinha" de Lennon e McCartney, se transformou em "madrasta" para Ringo Starr e George Harrison, que se arrastam a muito custo entre tribunais, filmes e gravações de escasso sucesso. George — depois de perder ações judiciais por ter copiado a música "My sweet Lord" de um sucesso de 1962 e por inadimplência contratual com a gravadora A&M — tentou, com pouco êxito, recuperar-se como produtor de cinema. Bandidos do tempo, que financiou e para o qual compôs a trilha sonora, foi um fracasso de bilheteria e seu último álbum, Gone troppo (1982), despertou pouco entusiasmo da crítica e do público.
Ringo Starr também não teve sorte com o cinema: interpretou O homem das cavernas (1981), faroeste pré-histórico praticamente mudo, e o insucesso foi tal que prejudicou o projeto para uma nova versão de Tempos modernos, de Chaplin. Agora, ele está preparando uma Beatle story, para uma TV por cabo inglesa.
Paul e seu império — Ao contrário do luxo que George e Ringo gostam de ostentar, Paul McCartney estabeleceu regras severas para si e sua família — a inseparável mulher Linda e os filhos Heather, Mary, Stella e James —, vivendo numa fazenda da Escócia. "Os milhões não me subiram à cabeça", gosta de dizer "o mais bonito dos Beatles", que hoje dirige um verdadeiro império empresarial, controlando diariamente a afluência de espectadores aos musicais da Broadway na revista Variety e jamais perdendo de vista o índice Dow Jones da Bolsa de Valores de Nova Iorque. Mais uma vez no topo das paradas, com "Say, say, say", gravada em parceria com o imbatível Michael Jackson, aos 41 anos ele se transformou de popstar em industrial da música.
Nos últimos cinco anos, comprou os direitos das canções dos musicais de sucesso em Nova Iorque, de Grease a Choras Line, de Annie a La cage aux folies. Depois, adquiriu os direitos de 10 mil canções, inclusive velhos clássicos como "Sentimental journey" e "One for my baby" e hinos de clubes esportivos, gastando 3,5 milhões de dólares. Loucura? Não, antes um grande faro para negócios: toda vez que essas músicas são tocadas, em qualquer lugar do mundo, Paul fica mais rico. No ano passado, declarou o mais elevado faturamento pessoal de todo o Reino Unido, 129 milhões de dólares, deixando para trás grandes empresas como a British Airways. William Davis, autor do livro The rich: a study of the species, calcula que McCartney ganha 40 milhões de dólares por ano, ou seja, 7,3 milhões de cruzeiros por hora nos 365 dias do ano. E os biógrafos dos Beatles, Peter Brown e Steven Gaines, avaliam seu patrimônio global em 500 milhões de dólares, igual ao orçamento anual de alguns países do Terceiro Mundo.
Faltam "as crianças" — Sempre atento ao fisco e à imagem, Paul não gosta de falar sobre seu dinheiro. Mas uma coisa é certa: ele é o músico mais vendido de todos os tempos, com mais de sessenta discos de ouro (gravações com os Beatles, os Wings, Stevie Wonder, Michael Jackson). Ao todo, vendeu mais de 100 milhões de álbuns e outro tanto de discos 45 rpm — base de todo um império controlado por uma equipe extremamente fiel: treze economistas de tempo integral e uma dúzia de advogados sob as ordens do sogro, Lee Eastman, além da MPL Communications Inc., corporação que cuida de seus compromissos, imagem, relações públicas, investimentos, contratos, copyright, etc.
Ao contrário de John Lennon, que se prevenia contra a inflação investindo com pouco lucro em imóveis, McCartney apostou suas moedas na música pop. E elas chegam regularmente. Ele embolsa, por exemplo, 25% de direitos de autor toda vez que uma música dos Beatles é tocada em qualquer lugar do mundo, ou seja, a todo o instante. Último grande golpe: um contrato de nove algarismos, em dólares, com a Columbia, mais 20% de royalties por disco vendido.
Mas Paul tem um desgosto: não conseguiu ainda comprar os direitos das músicas dos Beatles, perdidos quando sua editora Northern Songs foi adquirida por Lord Lew Grade, que a passou ao magnata australiano Robert Holmes. Foi seu único grande fracasso e a única coisa que o deixou fora de si. Esses números não bastam para Paul McCartney, que não se recusa a falar de seus projetos:
VISÃO — Em relação a seus álbuns anteriores, o último, "Pipes of peace", é muito alegre. Refletiria seu estado de espírito atual?
Paul — Sim. Justamente por isso é um disco novo, ao invés de constituir a segunda parte de Tug of war, o álbum anterior. Lá eu me colocava algumas perguntas e não encontrava resposta. Este tem as respostas: paz, amor.
VISÃO — Você está trabalhando no projeto de um filme...
Paul — A história é a seguinte: um sujeito muito parecido comigo está gravando um LP chamado Girl missing, os cassetes desaparecem e as suspeitas recaem sobre um amigo que trabalha comigo e tem um passado repleto de crimes. Todos pensam que errei em confiar nele e estão certos. Na vida real passei por experiências semelhantes. Não vou dizer como o filme acaba, mesmo porque está muito relacionado com o mundo musical de hoje e uma certa época da minha carreira.
VISÃO — Você trabalha muito, que impulso o leva afazer isso?
Paul — Nada em especial. Na realidade, gosto do trabalho. Quando estava começando minha carreira, estudava e sonhava vencer e ficar famoso, pensava: depois vou deixar de trabalhar. No entanto, você conquista o sucesso e pensa: se não trabalhar, o que vou fazer em casa sozinho com todo este dinheiro?
O sonho continua — John Lennon morreu, mas não sua presença no cenário musical do mundo — disso se encarrega, com muita energia, a viúva Yoko Ono. Para comemorar o terceiro ano da morte" do ex-Beatle e mobilizar a opinião pública para a paz mundial, ela organizou no início do ano um leilão, oferecendo a coleção de litografias autografadas, um Rolls-Royce Classic Phantom 1965, instrumentos musicais, partituras, roupas e objetos pessoais do marido. E no dia 23 de janeiro lançou Milk and honey, pela Polygram, um álbum com músicas inéditas do casal, até então guardadas num cofre.
Toda essa movimentação realimentou uma velha polêmica: a exploração dos "mortos famosos", acusação que envolve também um produtor disco­gráfico que garante possuir seiscentas horas de gravações inéditas de Jimi Hendrix e a mulher de Bob Marley, que acena com pelo menos dez novos discos do marido. Essas suspeitas de especulação, entretanto, não abalam Yoko, que sempre declarou pretender preservar a memória do ex-Beatle.
Mas ela não se limita a trabalhar com a herança de Lennon: está para sair uma coletânea de suas canções, interpretadas por Roberta Flack, Harry Nilsson e outros. E não se descuida do futuro artístico do filho, Sean, oito anos e já contratado pela Ono Productions. "Ninguém esquecerá John. Mas quero que seu espírito reviva também através de meu filho. É minha esperança como mulher e como mãe."
Cálculo comercial ou autêntico amor materno? "Com Yoko, nós nos acostumamos do ridículo e ao mau gosto", comenta Marco Postanesi, autor do livro Os Beatles. "Felizmente o gênio de Lennon foi tão grande que muitas gerações poderão ainda viver de lembranças. Apesar de tudo."
Legendas:
1- Vinte anos depois da agitada estreia de "A hard days night" em Londres, apenas Paul McCartney se mantém no topo das paradas praticamente como o único herdeiro dafama dos Beatles. Com 200 milhões de discos vendidos, ele se transformou com a mulher Linda, em dono de um império que lhe garante uma renda de 40 milhões de dólares por ano — sempre com música "pop".
2- ‘Yoko Ono: "Quero que o espirito de Lennon reviva através de meu filho, Sean".

6 comentários:

Valdir Junior disse...

Mais uma perola do fundo do Baú !!
É engraçado como certos textos nos anos 80 gostavam de polemizar e comparar de forma pejorativa as carreiras solos dos 4 Beatles !!
Ainda bem que temos nossa perspectiva do tempo agora para reavaliar tudo isso !!!

Abração e Hare !!!

Andrefpaes disse...

Grande Música, e tem tambem uma versão de George cantando...

Anderson disse...

Muito bom, excelente raridade do fundo do bau

renata lennon disse...

a cada dia q passa aprendo mais sobre os beatles fico muito feliz por isso

Longhi disse...

Realmente aqui encontramos noticias pelo menos para mim desconhecidas e como disse o amigo em outro comentário é legal comparar as notícias dos anos 80 com o que temos hoje, percebemos que a visão das pessoas muda, assim como muda o foco que não está mais na briga dos 4 Beatles ou na sua separação e hoje se concentra praticamente e quase exclusivamente em Paul, pois Ringo fica num segundo plano, exemplo da vinda dos dois ao Brasil, Paul na midia e por toda parte e o Ringo?

John disse...

nossa pegaram pesado com George e Ringo