quarta-feira, 6 de julho de 2011

O DIA QUE LENNON ENCONTROU McCARTNEY

Há 54 anos, no dia 6 de julho de 1957, The Quarrymen se apresentam no Garden Fete de St. Peter's Church em Woolton, Liverpool. Nos bastidores, Ivan Vaughan apresenta a John Lennon um amigo: Paul McCartney. Paul que se impressionara com o desempenho de John no palco, impressiona a todos com sua interpretação de “Twenty Flight Rock” de Eddie Cochran, uma letra difícil e ainda tocando como canhoto em um violão para destro. Ali, nascia a dupla de compositores mais famosa de todos os tempos!

O texto que a gente confere a seguir, é do livro "O JOVEM LENNON" de Jordi Sierra Fabra (Editora Nova Alexandria - 1995). Não é um texto biográfico sobre o encontro, e sim, uma visão meio que "romanceada" pelo autor. Espero que gostem. Abração!
"A nota final da última canção sobrevoou as cabeças dos participantes do piquenique, morrendo num silêncio no qual tornaram a surgir os gritos das crianças, O murmúrio dos que dialogavam e os risos, sempre uma luz no meio das trevas, das garotas paquerando os rapazes que as cercavam. John olhou para a platéia e esperou um pouco de entusiasmo, um pedido de bis, um aplauso mais forte que o da boa educação. Nada.
As crianças e adolescentes que estavam dançando foram embora ou aproximaram-se do palco para dar uma olhada nos instrumentos. Os casais procuraram a solidão naquelas primeiras horas do anoitecer. As mulheres continuaram comendo, e os homens, bebendo. O piquenique continuava, e os arredores de Woolton enlanguesciam.
John começou a guardar a guitarra na capa.
- Hoje deu tudo certo - disse Eric Griffiths.
- Só que ninguém nos deu bola...
- Mas deu certo - insistiu o amigo.
- Vamos tomar alguma coisa? - perguntou o baterista.
- Você vem? - quis saber Griffiths.
- Não, vão vocês.
Não esperou que reprovassem sua atitude e pulou do palco. Na verdade estava com sede, porém não queria falar com ninguém. Procurava na solidão um refúgio para seus pensamentos, só isso. Odiava os elogios gratuitos, as palavras fáceis e as palmas corteses. Odiava o cinismo adulto e a hipocrisia barata. Tinham tocado mal, sem dúvida, mas melhor do que todos eles mereciam.
- O que é que está falhando? - resmungou em voz baixa.
- O quê, meu Deus?
As entradas e saídas de novos músicos, a precariedade dos instrumentos, a falta de ensaios, especialmente agora que estavam em período de exames e uma nota baixa podia acabar com um bom verão, sua idade... Sim, possivelmente isso fosse o pior. Ninguém os levava a sério.
- Pois não vão poder comigo - jurou para sí mesmo.
Pensou em pegar a guitarra e desaparecer, embora isto não fosse justo com os outros. Parou e então viu Ivan Vaughan vindo em sua direção. Ivan era um bom amigo, entusiasta e leal, embora não tivesse o menor ouvido para a música e nenhuma habiliade para tocar qualquer instrumento. Gostava dele especialmente por seu otimismo, esse tipo de ânimo que transforma o difícil em fácil e o impossível em viável. Continuava sem querer falar com ninguém, mas não podia magoar Vaughan.
- Ei! Onde você se meteu? O que está fazendo aí sozinho?
- Nada, estava tentando...
Ivan o puxou pelo braço.
- Venha, quero lhe apresentar uma pessoa.
Quase o arrastou por uma meia dúzia de metros; finalmente pôde levantar-se e perguntou:
- Onde é que você pensa que vai?
- Já disse: quero lhe apresentar alguém.
- Ivan, por favor - protestou. - Não estou com humor para nada. Você não ouviu como tocamos mal?
- Bobagem. Vamos!
Ia responder-lhe taxativamente que não, quando, sem saber como, encontrou-se diante de um garoto com aproximadamente a sua idade, muito atraente e elgante. John odiava o charme masculino e a elegância. Preferia algo mais de acordo com a vida. Liverpool não era Londres, nem Woolton era o palácio de Buckingham. No entanto, alguma coisa lhe agradou no desconhecido.
Alguma coisa difícil de explicar. Talvez a intensidade do olhar, ou a força com que lhe apertou a mão.
- John - disse Vaughan - este é o Paul. Paul McCartney.
- Vocês não tocam nada mal, sabe? Isto é, não tenho visto muitos grupos como o seu, e isso porque Liverpool está cheia.
- Foi uma atuação péssima - resmungou John.
- Talvez - disse o desconhecido McCartney - mas uma coisa é ser ruim e fazer uma apresentação horrível e outra é ser bom e não ter prática. Você é bom, e sua voz... tem força.
- Está falando sério?
- Claro que sim. Não sou um desses puxa-sacos que ficam elogiando qualquer um - assegurou McCartney. - Também toco guitarra e sou duro comigo mesmo. Você conhece Riot in cell block number nine?
- Não, de quem é?
- Dos Coasters. Tem um trecho parecido com um dos temas que você interpretou, e você não tocou direito.
- Poderia me ensinar?
- Claro, venha.
Retomaram a caminhada rumo ao palco e subiram pela parte de trás. John tirou a guitarra da capa e estendeu-a ao novo amigo. Este a segurou ao contrário.
- Como...?
- Paul McCartney sorriu. Parecia um coelho simpático.
- Sou canhoto - esclareceu - , mas dá na mesma. Olha...
Colocou a mão direita nos trastes e com a esquerda dedilhou as cordas. Diversas vezes. Mudou o acorde e obteve uma melodia clara e definida. Não era apenas rápido, mas tembém preciso. John ficou impressionado. A habilidade do surpreendente McCartney não estava apenas em sua aptidão musical, mas fazia parte de um todo aberto, versátil e ameno.
- Então? Experimente você agora.
John pegou a guitarra. Sentia-se excitado, feliz, superara a recente crise. Aquele garoto não devia ter mais do que quinze anos e, no entanto, valia mais do que todos os Quarrymen juntos, exceto ele, naturalmente.
- Que idade voc~e tem? - perguntou curioso.
- Catorze.
- O quê?
- Não me importo muito com a idade. E você? Quantos anos tem?
- Quinze e meio... faço dezesseis em outubro - disse John.
Agora a admiração apareceu nos olhos de Paul. As diferenças eram notáveis. Não apenas um ano, mas quase dois.
- Claro, por isso você pode ter o seu próprio grupo. Eu também vou formar um assim que puder...
Estudaram-se com mútuo respeito, até que John repetiu o acorde recém-ensinado por Paul. Errou uma vez e repetiu-o. Da segunda vez, conseguiu.
- Viu? Você é bom mesmo!
- Não. Você que é. Onde estuda?
- Liverpool High Institute.
- Você toca em algum lugar ou algo parecido?
- Não.
John sorriu. Passou uma mão pelos ombros de Paul e apoiou-se nele com carinho. Tinham tomado algumas cervejas antes de Ivan Vaughan deixá-los sozinhos.
Paul notou que seu companheiro estava um pouco alto. No entanto, sua voz foi totalmente sincera quando lhe perguntou:
- Escute, quer fazer parte do meu grupo?
Era mais do que teria se atrevido a sonhar.
- Você está falando sério?
- Se disser que sim, já é um Quarrymen.
- Sim!
O piquenique de Woolton terminara."

5 comentários:

Paulo Henrique disse...

Nossa, excelente história, mas essa versão é bem diferente da que eu li, nowhere boy e in his life também tem uma versão diferente. Essa versão que eu vi e postei na comunidade Beatles Forever, http://www.orkut.com.br/Main#CommMsgs?cmm=70218&tid=5625623636062818809&start=1 se quiser ler essa versão.. :D

Marco disse...

É um bom texto. Já li esse livro. Só faço uma ressalva no final: o piquenique de Woolton nunca terminou.

João Carlos disse...

Pode não ter sido assim,exatamente.Com certeza não foi.Mas deveria ter sido!

Valdir Junior disse...

Legal a estoria , mas historicamente pode ter sido diferente , o que na realidade não importa muito , mas sim comemorarmos esse dia `` O começo do começo ```.

RafaCruz disse...

O dia em que eles se conheceram também é retratado brevemente no filme O Garoto de Liverpool, eu assisti e achei legal.

Bjs
Rafa
rafadeoliveira-tudosobrequalquercoisa.blogspot.com